- Queres tomar alguma coisa? Deve haver para aí algo. Eu já volto – disse, seguindo ao longo de um corredor e indicando-lhe a sala onde ele se desfez da capa e se sentou num sofá bastante usado.
Pegou na viola e muito mansamente arranhou uns acordes, trauteando a melodia quase em murmúrio. Sentia-se um pouco tonto mais pelo inesperado do que pela bebida. Não sendo com a Tuna, qual seria a probabilidade de poder sonhar com a possibilidade de acontecerem coisas destas? Cada vez mais gostava do caminho académico que havia escolhido. Não só pelo brio que o obrigava a manter o seu percurso académico imaculado mas também porque, mais do que isso, ainda lhe permitia viver a sua juventude de uma forma rica e preenchida. Nem nos seus melhores sonhos à chegada à faculdade poderia alguma vez ter imaginado tudo o que a vida lhe estava a dar nestes últimos anos. Rejubilando interiormente, fez, sorrindo, um brinde mental: “Aos Amigos e aos Amores”.
- De que te ris?
Ela tinha assomado a porta da sala, já em chinelos. Tinha tirado o casaco e a gravata, desapertando o primeiro botão da gola da camisa. Trazia na mão uma garrafa de Porto e dois copos tirados do escorredor da cozinha.
- Estava a pensar que a vida às vezes é bela. Como é que eu podia imaginar que ia estar aqui a esta hora a …
Ela já tinha pousado os copos sobre a mesa e colocou-lhe um dedo sobre a boca impedindo-o de continuar.
- Não fales do que não sabes nem tires conclusões erradas. Não sei o que pensas mas nunca fiz o que estou a fazer hoje. Até estou com medo de mim mesma. Por tudo. Espero que não me tenha enganado a teu respeito e amanhã à tarde já tudo isto seja do conhecimento dos teus amiguinhos.
- Já me devias conhecer um bocadinho melhor. Sabes bem que eu não sou desses. Aliás, foi uma das primeiras coisas que os meus “amiguinhos”, como lhes chamas, me ensinaram. Se outra coisa não fosse, ainda gosto de pensar em mim mesmo como um cavalheiro.
- É. Vocês gostam de contar essa história. Mas quantos exemplos tu queres que eu te dê de casos em que eu sei que foi precisamente o contrário?
- Eu sei. Infelizmente andam para aí muitos, e muitas, segundo sei – disse, sorrindo maliciosamente – que não fazem a mínima ideia do que é ser tuno e de como se devem comportar em muitas situações. Mas é como em tudo, há filhos de muitas mães. Além do mais não é uma história, aconteceu mesmo. Segundo sei, há muitos anos, em Espanha, passou-se com uns da Estudantina de Coimbra. Parece que ficaram dois sozinhos com duas espanholas numa praia e eles perguntaram-lhes se elas, que não os conheciam de lado nenhum, não tinham receio de ficarem a sós com eles, estando longe de tudo e de todos. E a história ficou mais, sobretudo, pela resposta que elas deram e que os espantou: “- No, hombre! Porque un Tuno es un Señor!”
- Onde é que já vão esses tempos.
- Também tens razão. Mas, felizmente, cada vez mais muitos de nós estamos a fazer com que os outros o aprendam e nunca se esqueçam disso.
- Queres beber mais alguma coisa? Aqui em casa só há bebidas de mulheres.
- Acho que já tenho a minha conta, por hoje. Mas se tu beberes, depois deixas-me provar o sabor da tua boca?
Ela sorriu e sentou-se ao colo dele.
- Acho que prefiro dar-te o meu sabor, sem quaisquer aditivos.
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5 comentários:
Amigo Átila... continue a estória... tá a ir muito bem... parece-me muito familiar... lol...
Meu caro Horse:
Não, pode ter a certeza que a "estória" não se passou na Figueira.
é ficção... mesmo.
Ganda Abraço
Se é familiar, ficcionada, ou não, que importa?
Está a ser um deleite!
Este Atila de facto....lá vai contando o que muitos julgam saber....
Já agora, continua....
Abraços! (sem bailey´s..)
Na Figueira?!?... Hummm... Por acaso a Figueira traz-me boas recordações é um facto... mas eu pensava que a acção da história era em Lisboa... Mas tudo bem! Não importa... Até podia ser em Moscovo ;)... a acção é que interessa... lol, lol... Continue, continue...
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