terça-feira, 14 de agosto de 2007

Amores de Estudante (II)

Afinal, andava nesta vida desde o segundo ano da faculdade, ou seja, mais ou menos há outros tantos.
Tinha passado a sua época de caloiro, não sem dificuldades. A Tuna estava na sua fase mais esplendorosa de sempre e os mais velhos não tinham qualquer motivo para facilitar a vida aos novatos. E era sabido que a praxe lá praticada era uma das mais rigorosas. Mas a vontade e disciplina pessoal tudo haviam feito superar. E como orgulhoso veterano, embora recente, já podia, de alguma forma, evidenciar-se. Ainda mais porque tendo uma voz que até nem era desengraçada, tinha sido escolhido para solista da nova música do “Letras” que já tinha cantado no concurso na véspera.

E foi no final que ela o abordou discretamente, num falso casual.
- Estiveste bem. O teu colega tem mesmo jeito para fazer coisas daquelas! – disse.
Encolheu os ombros, embora assentindo na observação. Estava pouco surpreendido por a reencontrar. Afinal, já a conhecia desde o seu ano de caloiro quando ela lhe desenrascou uns comprimidos para uma arreliadora dor de dentes sem lhe mostrar o costumado desprezo pela sua condição. Não que a Tuna fizesse os caloiros usar qualquer daqueles trajes apalhaçados e ridículos de que outros tanto pareciam gostar. A capa e batina é que era o traje apropriado para todos. Ainda assim era fácil distinguir caloiros e veteranos pelo porte, cortesia e saber estar que só os anos e a experiência traziam consigo.
Desde aí, várias vezes se haviam cruzado pois ela parecia fazer questão de estar presente em muitas ocasiões, especialmente nos eventos de maior fama, e ele tinha-se apercebido que ela, apesar de não pertencer a nenhum grupo feminino ou misto, se mantinha bem informada quanto a modas e novidades. Lembrava-se, em especial, dum fim de tarde de Maio, em Coimbra, onde sentados nas docas do Mondego, cabeça com cabeça, com as pernas viradas para o rio, tinham partilhado um MP3 para ouvir um disco antigo dos Sabandeños e que ele ainda não conhecia. Sem ter percebido muito bem porquê, quando a passagem começou ainda o sol ia alto e quando terminou já a Lua espreitava do trás da torre da Universidade, o que os tinha obrigado a correr, entre risos, pela cidade até ao Gil Vicente, onde o espectáculo já deveria ter começado.

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