sexta-feira, 31 de agosto de 2007

"Os Estéreo Tipos" (1) (IV)


“O Traçadinhas” (IV)

Naquela Quarta-feira, ao fim da tarde, Carlos fez o balanço desses primeiros dias. Tinha conhecido o centro da cidade e o Pólo Universitário. Tinha conhecido alguns dos outros caloiros, colegas de curso, onde se tinha começado já a esboçar um círculo de conhecimentos e amizades. Fora às primeiras aulas estranhando as diferenças em relação ao Liceu e tendo mesmo ficado assustado quando um dos professores aparecera com duas malas de viagem cheias de livros, dizendo ser a bibliografia de consulta obrigatória. A questão é que havia livros em alemão, russo e mesmo israelita que, para ele, era o mesmo que chinês. A sorte é que tinha a seu lado um colega que já estava a repetir a cadeira e que o sossegou dizendo que ninguém lia aquilo, que era mais fogo de vista que outra coisa.

É claro que também já tinha sido “praxado”. Primeiro, numa aula em que estranhou ser o professor tão novo e se ter fartado de dizer coisas sem pés nem cabeça, a ponto de julgar que estava ou na sala errada ou noutro mundo. Só à saída percebeu a esparrela... E depois porque todos os dias apareciam trupes de veteranos que os mandavam fazer coisas insólitas mas lhe iam mostrando quer a cidade quer a Universidade e os seus costumes.

Naquele dia jantou cedo, quase foi apenas um lanche, e após longo matutar, decidiu vestir a capa e batina pela primeira vez. Cheirava obviamente a novo e estava bem vincadinha e sem quaisquer nódoas ou rugas. Ataviou-se como pode e soube e saiu de casa sentindo-se orgulhoso rumo à Associação Académica.
Lá encontrou a sala da Tuna onde entrou decidido. Já lá estava uma dúzia mais de caloiros que ele já conhecia de vista, mas nenhum trajado como ele. Reparou como os tunos que lá estavam ficaram a olhar para ele com cara de espanto.
- Olha um apressadinho! – exclamou um deles.
- Ó caloiro, se estivesses noutras Academias nem sabes no que te tinhas metido... – disse outro.
- Pois, pois – riu-se um terceiro – não te safavas de umas rapadelas e de sanção de unhas. A tua sorte é que aqui as coisas funcionam de maneira diferente.
- Então eu ainda não posso vestir o traje? – perguntou intimidado e corando ao sentir-se o centro das atenções.
- Bem, aqui até podes. O “código” deixa, depois da matrícula. Mas se fosse noutros sítios... – retorquiu o primeiro.
- Bem, sentem-se lá todos que nós vamos explicar como tudo isto funciona.

Na meia hora seguinte, o chefe, um dos que parecia mais ponderado e respeitado pelos restantes falou-lhes sobre o que era aquela tuna, os princípios que respeitavam, as actividades que tinham, a música que tocavam, as cerimónias em que costumavam estar presentes, a colaboração com a Universidade e as vantagens de fazer parte da tuna, tendo ele ficado espantado ao saber que os elementos da mesma tinham direito a uma época de exames especial.
Depois um outro, o mesmo que o tinha abordado no primeiro dia, falou-lhes sobre a praxe da tuna, a hierarquia interna, o processo de admissão, as responsabilidades individuais e colectivas e, em geral, sobre as regras de relacionamento que tinham entre todos enquanto membros da tuna.

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

"Os Estéreo Tipos" (1) (III)


“O Traçadinhas” (III)

Na manhã seguinte, lá foi procurar os serviços do Politécnico para fazer a matrícula, fazendo os possíveis para passar despercebido. Mas estavam logo à entrada uns “veteranos”, como se tratavam entre eles, embora tenha achado que a maioria não teria mais do que um ou dois anos que ele. Puseram-no logo numa fila e mandaram-no fazer uma dúzia de coisas parvas e ensinaram-lhe três ou quatro frases que mais pareciam de uma claque de futebol. Apesar de tudo, divertiu-se e aquilo acabou por o descontrair.
Mas ao preencher os papéis, apareceram-lhe outros trajados e bastante mais velhos, que traziam uma bandeira, estandarte segundo diziam – e não era, estandarte era o que tinha o rancho lá da terra, em forma de “T” – umas pandeiretas pequeninas e alguns instrumentos de cordas, violas, cavaquinhos e bandolins.
- Ó caloiro, sabes música?
- Um bocadinho, respondeu timidamente.
- Então vais p’ra Tuna. O que é que tocas?- Clarinete.
- Isso para aqui não serve. Não sabes mais nenhum?
- Não serve? Porquê?
- Esses são contos mais largos. Mais tarde te explico, se valer a pena. Mais nenhum?
- Também toco um pouco a rebeca e sei os acordes do cavaquinho e da viola.
- Isso já é outra conversa. Bom, tens aqui o folheto. Apareces na quarta-feira à noite na Associação de Estudantes, depois do jantar.
- Eu nem sei onde isso é.
- Está bom de ver. Desenrasca-te. E não te esqueças eu já aqui fiquei com os teus dados. Encontro-te com facilidade.
- Farei os possíveis.
- Isso também não existe. Apareces e ponto final.

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

"Os Estéreo Tipos" (1) (II)


“O Traçadinhas” (II)


Quando acabou o Liceu lá na Vila, e porque o rapaz tinha mostrado uns dedos de testa, os pais e irmãos sempre o incentivaram a continuar os estudos. Afinal, não existia nenhum doutor na família e desde que ele não fosse nenhum estroina, talvez fosse possível, mesmo com o sacrifício de todos, pagar os custos com o canudo.
E o moço, que até achava estreitas as vistas que tinha do vale e dos montes de socalcos, lá foi a Vila Real candidatar-se à Universidade. Com alguma sorte e sabendo os sacrifícios que a família teria de suportar, mais feliz ficou quando soube ter entrado num Politécnico, numa Engenharia qualquer.
A música sempre tinha feito parte da sua vida. Tinha entrado cedo para a Banda pois desde os quatro anos começara a soprar no clarinete do pai que lhe tinha mostrado os rudimentos. Desde os nove que tinha ido para a Escola da Banda, desvendando os segredos das pautas que via lá por casa. E aos dezassete anos já não tinham conta as Romarias, Procissões, Desfiles e Concertos de coreto e de Teatro em que tinha estado. Até já tinha aparecido na televisão num daqueles programas da manhã por ocasião das Festas da Vila. E que bem se sentia quando vestia a farda e o boné para ir tocar as Marchas no S. João.
Mas agora que ia para a Universidade o que ele queria era vestir a batina que via a alguns universitários, com aquela capa que eles viravam para a frente e estava coberta de coloridos emblemas que sempre foram um mistério para ele. Não ousava pedi-la aos pais. Já bem bastava o que iam gastar com ele em livros, comida e estadia. Foi logo oferecer-se ao irmão par a trabalhar no Verão, período em que este andava sempre a queixar-se da falta de mãos extra. E lá passou Julho e Agosto com os tubos numa mão, o malho e o alicate na outra. Mas no final, maravilha. O dinheiro ganho chegava para o fato todo, uns sapatos pretos, uma gravata da mesma cor, duas camisas e ainda sobrou algum para festejar a despedida com os amigos de infância.

Recordava com carinho as lágrimas da mãe ao fazer-lhe a trouxa, a viagem na carrinha do pai, em que houve mais silêncio que outra coisa qualquer, e o forte abraço do pai quando, depois de encontrado um quartinho onde ia ficar, o instou a trabalhar duro e aproveitar a oportunidade que nenhum dos irmãos tivera. E os conselhos dos pais quanto ao cuidado a ter com as más companhias, as cervejas e as raparigas.
E lembrava-se também do friozinho na espinha quando eles abalaram e o deixaram sozinho numa cidade que não conhecia a mais de duzentos quilómetros de casa, e maior, muito maior até do que Vila Real, que ele até conhecia muito bem.

terça-feira, 28 de agosto de 2007

“Os Estéreo Tipos” (1) (I)


“O Traçadinhas” (I)

Carlos nasceu numa pequena aldeia à beira Douro perto da vila. Os pais eram agricultoras remediados donos de uns pedaços de terra aos socalcos onde cuidavam da vinha e de umas leiras no vale onde tinham a horta e o pasto para a forragem do par de bois que os ajudavam nas lides campestres. O pai tinha estado alguns anos na Alemanha emigrado mas não se tinha dado nem com o tempo nem com o feitio dos teutónicos, já para não falar das saudades da mulher que tinha ficado na terra. Voltou logo que juntou um pequeno pé-de-meia que lhe permitiu uns arranjos maiores na casa que tinha herdado dos pais e a compra de umas, poucas, alfaias agrícolas que ajudavam na amanha das terras. Carlos era o filho mais novo de três irmãos. Serôdio, já mal se lembrava desses tempos da vida do pai. O irmão mais velho, João, tinha ficado com poucos estudos e tinha-se feito à vida, primeiro na terra, depois nas obras e por fim estabelecendo-se por conta própria num negócio de canalizações. Ana, a irmã do meio, tinha feito o Liceu, casado com um vizinho e abalado a trabalhar com o marido lá para os lados do Porto. Ele ainda se recordava do casamento dela ainda miúdo, talvez com uns sete anos.
Desse casamento ainda se lembrava que tinha tido a boda no Salão da Paróquia, e cuja animação tinha sido feito pela Tuna da terra e com a presença do Rancho da Freguesia onde ela dançou até casar.


Ele conhecia todos os seus elementos, tanto tempo eles passavam na adega lá de casa onde costumavam ensaiar. Não só o pai tinha sido em tempos o mestre, como o irmão João nela tocava a sua rabeca desde que se conhecia como gente. Por tudo isto, lá em casa sempre se respirou música nos tempos de descanso e lazer. O pai tinha um clarinete e um trompete que conservava desde os seus tempos de juventude. Já o irmão sempre mostrara maior inclinação para as cordas.

Nota Reflexiva e Explicativa



Fruto da inexperiência com esta nova ferramenta que são os "blogs", este meu cantinho irá paulatinamente ser modificado e adaptado às necessidades do momento.

Assim, as "estórias" a publicar serão descontinuadas, isto é: cada cenário temporal, espacial ou temático poderá ser abandonado num determinado momento para mais tarde ser retomado.

Por outro lado, no caso de cada "estória" ser demasiado longa, continuará a opção em a dividir por partes para tornar a leitura menos compacta e maçuda.

Além da que vai ser começada a seguir, e que, pela própria natureza terá personagens diferentes e em tempo de publicação diferente, estão já em marcha duas outras com parâmetros completamente diversos.

Concluindo: nem mesmo eu sei o sentido em que tudo isto vai evoluir. As opiniões, sugestões, e, porque não, colaborações dos amigos também contarão. E muito.

P.S.- Pelo que me foi dito, é mais um dia negro no mundo tunante. Mais um tiro na credibilidade das tunas. Parece que agora a problemátiaca da "sapatilha" até já chegou à Televisão. Há quem consiga fazer mais que todos os "MATA's" juntos. Valham-nos Todos os Santos que um só já não chega...

Abraço deste vosso Amigo

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Amores de Estudante (IX)

Quando deu por si já o Metro havia passado a paragem pretendida, o que o fez sair na seguinte e esperar o próximo para voltar atrás. Sorriu enquanto esperava, recordando como ela o tinha conduzido ternamente pela mão duas portas mais além no corredor levando-o para o seu quarto. Estremeceu, sentindo ainda o fremor da paixão das horas que se seguiram. Serenou, lembrando-se como adormeceram nus enroscados um no outro. Focou o seu olhar, admirando o corpo perfeito dela adormecido e abandonado quando acordou com um pregão solto na rua. Lembrou-se do cheiro dela quando lhe deu um beijo na testa e se despediu ao ouvido dizendo-lhe baixinho: “Até logo. És linda”.

Campo Grande. Saiu da estação rumo à luz e ao verde ali próximo. Anteviu desde logo várias capas negras em pequenos grupos conversando ou tocando. Reconheceu alguns dos seus a quem se dirigiu.
- Ora seja bem aparecido, Vossa Excelência! – Exclamou o “Letras” de sobrolho franzido – estávamos a ver que te tinhas perdido. Espero que o caminho não tenha sido demasiado longo!
- Foi, pá. Muito mais longo do que possas imaginar. Mas já não está na hora de ir comer alguma coisa? É que estou com uma fome de cão. Desde ontem que não ponho nada à boca. Vamos?
- Vamos lá, então. Daqui a nada começa o rally das tascas, ou lá o que é…

FIM (... do episódio, é claro)

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Amores de Estudante (VIII)

- Queres tomar alguma coisa? Deve haver para aí algo. Eu já volto – disse, seguindo ao longo de um corredor e indicando-lhe a sala onde ele se desfez da capa e se sentou num sofá bastante usado.
Pegou na viola e muito mansamente arranhou uns acordes, trauteando a melodia quase em murmúrio. Sentia-se um pouco tonto mais pelo inesperado do que pela bebida. Não sendo com a Tuna, qual seria a probabilidade de poder sonhar com a possibilidade de acontecerem coisas destas? Cada vez mais gostava do caminho académico que havia escolhido. Não só pelo brio que o obrigava a manter o seu percurso académico imaculado mas também porque, mais do que isso, ainda lhe permitia viver a sua juventude de uma forma rica e preenchida. Nem nos seus melhores sonhos à chegada à faculdade poderia alguma vez ter imaginado tudo o que a vida lhe estava a dar nestes últimos anos. Rejubilando interiormente, fez, sorrindo, um brinde mental: “Aos Amigos e aos Amores”.

- De que te ris?
Ela tinha assomado a porta da sala, já em chinelos. Tinha tirado o casaco e a gravata, desapertando o primeiro botão da gola da camisa. Trazia na mão uma garrafa de Porto e dois copos tirados do escorredor da cozinha.
- Estava a pensar que a vida às vezes é bela. Como é que eu podia imaginar que ia estar aqui a esta hora a …
Ela já tinha pousado os copos sobre a mesa e colocou-lhe um dedo sobre a boca impedindo-o de continuar.
- Não fales do que não sabes nem tires conclusões erradas. Não sei o que pensas mas nunca fiz o que estou a fazer hoje. Até estou com medo de mim mesma. Por tudo. Espero que não me tenha enganado a teu respeito e amanhã à tarde já tudo isto seja do conhecimento dos teus amiguinhos.
- Já me devias conhecer um bocadinho melhor. Sabes bem que eu não sou desses. Aliás, foi uma das primeiras coisas que os meus “amiguinhos”, como lhes chamas, me ensinaram. Se outra coisa não fosse, ainda gosto de pensar em mim mesmo como um cavalheiro.
- É. Vocês gostam de contar essa história. Mas quantos exemplos tu queres que eu te dê de casos em que eu sei que foi precisamente o contrário?
- Eu sei. Infelizmente andam para aí muitos, e muitas, segundo sei – disse, sorrindo maliciosamente – que não fazem a mínima ideia do que é ser tuno e de como se devem comportar em muitas situações. Mas é como em tudo, há filhos de muitas mães. Além do mais não é uma história, aconteceu mesmo. Segundo sei, há muitos anos, em Espanha, passou-se com uns da Estudantina de Coimbra. Parece que ficaram dois sozinhos com duas espanholas numa praia e eles perguntaram-lhes se elas, que não os conheciam de lado nenhum, não tinham receio de ficarem a sós com eles, estando longe de tudo e de todos. E a história ficou mais, sobretudo, pela resposta que elas deram e que os espantou: “- No, hombre! Porque un Tuno es un Señor!
- Onde é que já vão esses tempos.
- Também tens razão. Mas, felizmente, cada vez mais muitos de nós estamos a fazer com que os outros o aprendam e nunca se esqueçam disso.
- Queres beber mais alguma coisa? Aqui em casa só há bebidas de mulheres.
- Acho que já tenho a minha conta, por hoje. Mas se tu beberes, depois deixas-me provar o sabor da tua boca?
Ela sorriu e sentou-se ao colo dele.
- Acho que prefiro dar-te o meu sabor, sem quaisquer aditivos.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Amores de Estudante (VII)

- Talvez seja melhor termos um pouco mais de juízo. Isso aqui pode não ser seguro. Ainda aparece a Polícia ou pior…
Ele levantou a cabeça já bastante despenteada que emergiu de baixo da capa dela. Tinham-se escapulido para o meio do jardim, uns arbustos mais altos que formavam um copa em que se tinham tentado confundir com a noite. Ainda assim a vontade de parar era menos que nenhuma. Beijavam-se já há bastante tempo e entretanto aumentara a confusão em que ambos se acendiam e a ele, nesse momento, pouco apetecia retirar a mão do seio dela, quente e nem demasiado grande nem pequeno.
- Tens razão. Mas eu aqui estou como peixe fora de água, como sabes. Para onde é que eu te levo agora?
- Anda!
E levantou-se, fugindo-lhe e rindo. Ele correu atrás dela apanhando-a ainda em pleno relvado onde a fez cair uma vez mais, beijando-a. Ela abalou novamente, desta vez em direcção ao carro, onde entraram. Compôs a roupa e ajeitou o cabelo em desalinho.
- Já é tarde. Sabes o nome da Pensão em que ficaram? Eu levo-te lá.
- Não faço a menor ideia. E no estado em que estou neste momento, mesmo que soubesse…
- Não dizias, não era? – Riu-se ela – Bom, então talvez haja outra maneira se prometeres portar-te bem.
Levou-o internando-se na cidade, segundo percebeu, lá para os lados de S. Bento. Encontrou um lugar de estacionamento numa rua secundária ladeada de plátanos onde parou. Beijaram-se de novo até que ela decidiu sair levando-o para uma outra transversal onde alguns metros à frente parou, metendo as mãos ao bolso.

- Vivo aqui, anunciou.
- Ena, que grande prédio. Vivem cá muitas pessoas?
- Nem por isso. A maior parte dos apartamentos está arrendada a estudantes e professores, mas aqui à volta existem cada vez menos moradores. Toda a gente se queixa que isto está a ficar cada vez mais deserto.
- E em tua casa?
- Bom, além da minha prima, mais duas colegas. Mas hoje não está cá ninguém – disse numa voz sussurrada e que ele entendeu num misto de confissão e provocação.
- E arranjas-me aí um canto para ficar até de manhã?
- Se te portares bem, pode ser que sim – prometeu entrando no átrio do prédio. Agarra-te a mim porque não há luz nas escadas.
Ele não pensou duas vezes colando-se a ela e deixando-se conduzir pelo escuro. Na verdade, levaram mais de meia hora a subir dois lances de escadas até à porta do apartamento. Qualquer tropeção ou esbarramento era motivo para mais uns minutos de carinhos trocados. Por fim, lá entraram numa casa típica de estudantes em que ele não estanhou a desarrumação de livros e roupas nem os parcos móveis que constituíam o seu mobiliário.

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Amores de Estudante (VI)

- Então, estás a gostar?
- Muito. Ainda assim isto é diferente do que imaginava pudesse ser.
- Ainda bem. Mas mesmo assim acho que tu hoje estiveste melhor na serenata. E decidi logo que de hoje não passava… Bom, vamos acabar as bebidas e sair. Ainda quero dar uma volta.

Ele pagou e saíram de novo para a rua. Curiosamente para ele, a mão dela voltou a procurar refúgio entre os seus dedos, acabando ambos por descer Alfama abraçados. Ele deu um leve beijo nos cabelos dela e apertou-a contra si, agradecendo-lhe a surpresa. Estava nervoso, muito nervoso e cada vez mais surpreendido. Ela não esteve com rodeios:
- Sabes, há muito tempo que ando de olho em ti e não me parece que tenhas dado conta disso. Como não acho que sejas assim tão tímido, ou andas distraído ou com o interesse voltado para outro lado. Continuas a não ter namorada, pois não? – Perguntou-lhe, olhando-o directamente nos olhos.
Ele agradeceu-lhe a noite e procurou disfarçar o rubor que o assomava incontrolavelmente.
- Tu sabes bem a admiração que sempre tive por ti. Nunca mais do que isso me passou pela cabeça porque sempre achei que eras areia demais para a minha camioneta. Além do mais sou um simples rapaz de província.
- Tolo!
E mais resposta não teve, tendo-o ela apertado um pouco mais e feito ambos estugarem o passo.
Entraram de novo no automóvel que ela fez seguir até à zona de Belém onde se forma sentar no paredão junto ao rio.
- Se soubesses com me apeteceu fazer isto da outra vez em Coimbra… – disse ela fixando o rosto dele e impedindo-o de responder o que quer que fosse ao oferecer-lhe os seus lábios.

Voltou a si caminhando em plena Praça do Comércio menos agitada que o normal por ser uma manhã de Sábado e procurando a melhor maneira de chegar ao Campo Grande onde seguramente já o esperariam. Que o melhor seria apanhar o Metro no Rossio, disse alguém.
Entrou na última carruagem apesar da composição estar muito longe de ir cheia. Permaneceu de pé, agarrado a um varão, voltando a mergulhar nas memórias recentes, talvez por medo de as perder.

domingo, 19 de agosto de 2007

Amores de Estudante (V)

- Então que tal? – Perguntou ela.
- Para primeira impressão, é muito giro. Também se canta, pelos vistos. É caro?
- Nem muito nem pouco. O normal. Mas costumam passar-se aqui uns bons serões. O dono também é tuno e guitarrista, sabias? Mas hoje não deve cá estar, logo vemos.

Ele continuou na cerveja, ela preferiu um Porto. Depois do primeiro gole, ambos partilharam um cigarro. Falavam de banalidades quando apareceram dois instrumentistas que se foram colocar no meio da sala que apesar do seu tecto alto se mantinha com ar intimista. Já só existia o bruxulear da luz das velas e uma, pouca, claridade vinda de onde devia ser a copa. O silêncio aumentou às primeiras notas da guitarra, gemida, e suportada pelo batimento firme, quase cavalheiresco, da viola. Aproximou-se uma mulher nova, vinte e poucos anos, que desfiou dois ou três fados dos antigos. No último deles, ela segredou-lhe ser do género que não apreciava por ter uma daquelas letras de “faca na liga” que já não se usa. No final, a fadista retirou-se sob os aplausos, especialmente entusiásticos dos estrangeiros que ele verificou constituírem a maior parte da assistência.
Ao sair, cruzou-se numas escadas com outra figura que ele reconheceu imediatamente. A puxar para o forte, razoavelmente alto, moreno e de cabelo ondulado acamado por gel, ali estava o seu conhecido “Supermário” que ele conhecia quase desde o início da sua vida nas tunas e que respeitava profundamente por reconhecer ser uma figura ímpar, além de que sempre lhe invejara secretamente o seu timbre, aparentemente tão comum, mas que reconhecia ser único e de dificílima imitação. Como esquecer as gloriosas versões que ele cantava na Tuist como a “Amélia dos Olhos Doces” ou a “Estranha Forma de Vida”?
O Mário atacou alguns dos fados do costume e ele rejubilou ao aperceber-se que os guitarristas o estavam a acompanhar no modo “lundum”. Quando se iniciaram os acordes da “Lágrima”, o Mário reconheceu-os, piscando um olho. Ela quis comentar-lhe algo ao ouvido, mas, como ambos tinham tido o mesmo reflexo, isso só provocou uma leve cabeçada entre os dois, ficando-se a intenção numa mera gargalhada abafada. Mas ela, para o sossegar, ajeitou-se uma vez mais na cadeira, aninhando-se mais contra o corpo dele e sobre a sua mão pousando a dela e aí a deixando esquecida, o que não só o surpreendeu mais uma vez mesmo lhe sendo agradável como lhe fez aumentar a pulsação a ponto de julgar que o barulho dos seus batimentos cardíacos estava a ser ouvido em toda a sala.
Quando a sessão terminou, o Mário passou pela mesa deles para os cumprimentar mas não se demorou dizendo que ainda estavam à espera dele noutro sítio.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Amores de Estudante (IV)

Seguiram calados mais uns minutos enquanto ela cruzava cautelosamente algumas das grandes Avenidas de Lisboa, compenetrada na condução.
Ele apreciou-lhe discretamente o perfil, mais ou menos iluminado à medida que passavam pela iluminação laranja que traça as artérias das cidades grandes. O nariz um pouco arrebitado, o queixo com uma covinha a que ele achava tanta graça e era sempre um dos motivos dos seus piropos e o cabelo liso pelos ombros que lhe tapava as orelhas. Era bela. E como é que seria possível que nunca de tal se tenha dado conta do que agora admirava? E se... Mas afastou a ideia que pela primeira vez lhe passou pela cabeça. Afinal, ela sempre tinha sido uma boa amiga e nunca... Até lhe tinha apresentado umas colegas numa outra ocasião, bem sabendo que uma delas havia passado então a noite consigo. E nem sequer quis saber nada depois disso sobre o assunto. Pelo menos, não perguntou.

Estavam agora perto de Santa Apolónia. Ele conhecia a zona por já ter ido várias vezes a Lisboa de comboio. E isso até poderia estar a acabar. O pai tinha-lhe prometido um carro se a época de Setembro corresse bem. Os exames já tinham passado, só faltava saírem as notas e até parecia que tinha valido a penas perder metade das férias a estudar e não ter ido para o Sul de Espanha com o resto da Tuna onde eles se tinham safado bem, segundo diziam.
Ela virou por ruas mais apertadas e estacionou junto a um pequeno largo sem qualquer dificuldade apesar de ser Sexta-feira.
- Olha, ali é o Museu do Fado, sabias?
Ele fez-lhe prometer que o havia de levar lá durante o dia porque queria conhecer o espaço. Ela assentiu e arrastou-o por ruelas inclinadas que rasgavam Alfama e que ele só conhecia dos postais ilustrados, com tascas mal iluminadas, porta sim, porta não, de onde saíam cantares roucos e lamentosos.
- Apesar da aparência, disse ela rompendo o silêncio em que iam lado a lado, isto é tudo menos fado vadio. Disso, parece que agora já há pouco. É mais um negócio para turista ver. Lá em baixo, no Largo do Chafariz de Dentro onde parámos, estas casas têm uma espécie de angariadores que ganham à comissão para conduzir os incautos a estes lugares. É mesmo para inglês ver. Mas de outra maneira, não se aguentavam. Bom, chegámos. É aqui.

Num largo e naquilo que parecia um solar antigo, entraram numa sala forrada a azulejos portugueses antigos, não muito grande e que aparentava ter sido uma velha capela. Uma dúzia de mesas, se tanto, e ao fundo um balcão que ele reparou estar coberto de pequenas estátuas representando Santo António, de todas as formas e materiais. Ele sempre estranhou essa especial devoção quando sabia que o padroeiro da cidade até era S. Vicente, em cujas escadas da respectiva Igreja em tempos tinha estado num espectáculo que boas recordações havia deixado. A sala estava quase cheia mas afortunadamente uma mesa pequena, num dos cantos, à direita, estava vazia e lhes foi indicada por um dos empregados.

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Amores de Estudante (III)

Tirando isso, nada mais de especial tinha acontecido. Ele tinha apenas reparado que ela era bem torneada apesar de só a ter visto em ocasiões em que ela trajava com todo rigor, logo ele, que achava que o traje feminino devia ser ideia de alguém com grande maldade por fazer parecer todas as raparigas com um saco de batatas mal atado, a que nem sequer qualquer tipo de penteado em especial ajudava.
Ela ainda o tinha convidado para ele aparecer em S. Pedro de Moel onde costumava passar uns dias de férias com os amigos. No entanto, um arraial de Verão de última hora tinha-o impedido de aparecer por lá, além de que ele sempre pensou que era um convite de cortesia, amizade e mera circunstância.

- Olha lá, disse. Que estás a pensar fazer o resto da noite? Vais para a discoteca?
- Não pensei em nada de especial. É como tu sabes: “Carpe Diem”. Apesar dos velhos gostarem pouco que a gente se separe quando isto é a doer, como vai ser amanhã. Mas porquê? Tinhas alguma sugestão?
- Como vens cá poucas vezes e para barulho já me basta o resto do ano, estava a pensar em ir-te mostrar uns sítios que não deves conhecer.
-E porque não? Só tenho de estar para o almoço amanhã ou, no máximo, depois disso, para o “Peddy-paper”…
- Estava a pensar levar-te a Alfama, a um barzinho do tipo que tu gostas. Calmo, com música ao vivo, uns fadunchos. Aliás, hoje até acho que está lá o Mário a cantar. E mais algum que tu também deves conhecer…
- Boa. Já não vejo esse tipo há séculos. Além do mais também estou com pouca paciência para “Discos”. Quem vai? Levas a Tita contigo?
- Nops. Ela está à espera do namorado que hoje tinha um jantar de família. Estava mesmo a pensar em irmos só os dois. Além do mais até pode ser difícil arranjar mesa, logo se verá. Mas se quiseres trazer alguém… depois voltamos a vir ter com o pessoal.
Ele notou alguma hesitação na voz dela.
- Sabes que o meu bolinhas só dá para quatro.
- Não. Claro que não. Então vamos só os dois.
Surpreendido, ele tentou uma saída airosa e recriminou-se intimamente uma vez mais pela sua costumeira falta de tacto que tão mau resultado costumava dar.
- E tu achas que eu conseguia desviar alguém para ir ouvir fados? E ainda mais agora que anda tudo a tentar emparelhar? – disse, soltando uma gargalhada forçada, - só eu é que aprecio essas coisas mesmo nestas ocasiões. O que os outros querem é farra e prego a fundo. Queres ir já?
- É melhor. Aquilo não fecha tarde. Acaba a tua cerveja enquanto vou avisar a minha prima.
E desapareceu no meio da amálgama de capas negras, violas e bandolins. Bom, reparando melhor, também havia trajes azuis-escuros e cor de vinho. E um tipo até tinha um saxofone às costas. Esta gente nunca mais aprende, pensou com os seus botões, torcendo o nariz.
Lúcia estava de volta.
- Vamos? Está tudo resolvido.
- Como queiras. Já disse ao “Botas” que me encontro com eles mais tarde. Levamos uma “bejeca” para o caminho?
- Eu não posso. Sabes que vou conduzir.
Saíram do pavilhão, ela à frente, procurando orientar-se para localizar o velho “Honda”, velho companheiro de viagem que tantas coisa havia já partilhado com ela. Ele olhou-a por trás de alto a baixo, pela primeira vez de uma maneira diferente. Cabelos castanho claro impecavelmente cortados pouco abaixo dos ombros e a capa às costas onde sobressaíam apenas os emblemas da cidade, da faculdade e da associação académica.

Ele estava surpreendido pelo convite para aquele programa alternativo. Sem que nada para ele o fizesse prever, iria ser a primeira vez que estavam sozinhos.
Ela sentou-se ao volante e abriu-lhe a porta do pendura. Enquanto ele procurava acomodar a capa e a viola no acanhado banco de trás do automóvel reparou que ela se ajeitava para conduzir, fazendo subir a saia travada até meio da coxa que não pode deixar de fixar. Ela surpreendeu-o nesse momento e ele sentiu-se corar, vendo que a ela acontecia exactamente o mesmo. Nenhum deles fez qualquer comentário e ele procurou disfarçar afundando-se no assento e procurando sintonizar a rádio. Ela arrancou sem dizer qualquer outra palavra mas a ele pareceu-lhe ter feito sem querer uma espécie de registo fotográfico do rosto dela. Olhos castanhos amendoados bem enquadrados por sobrancelhas cuidadas e longas pestanas, nariz perfeito e um pouco arrebitado, boca carnuda e bem definida cujos cantos virados para cima pareciam sorrir permanentemente.

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Amores de Estudante (II)

Afinal, andava nesta vida desde o segundo ano da faculdade, ou seja, mais ou menos há outros tantos.
Tinha passado a sua época de caloiro, não sem dificuldades. A Tuna estava na sua fase mais esplendorosa de sempre e os mais velhos não tinham qualquer motivo para facilitar a vida aos novatos. E era sabido que a praxe lá praticada era uma das mais rigorosas. Mas a vontade e disciplina pessoal tudo haviam feito superar. E como orgulhoso veterano, embora recente, já podia, de alguma forma, evidenciar-se. Ainda mais porque tendo uma voz que até nem era desengraçada, tinha sido escolhido para solista da nova música do “Letras” que já tinha cantado no concurso na véspera.

E foi no final que ela o abordou discretamente, num falso casual.
- Estiveste bem. O teu colega tem mesmo jeito para fazer coisas daquelas! – disse.
Encolheu os ombros, embora assentindo na observação. Estava pouco surpreendido por a reencontrar. Afinal, já a conhecia desde o seu ano de caloiro quando ela lhe desenrascou uns comprimidos para uma arreliadora dor de dentes sem lhe mostrar o costumado desprezo pela sua condição. Não que a Tuna fizesse os caloiros usar qualquer daqueles trajes apalhaçados e ridículos de que outros tanto pareciam gostar. A capa e batina é que era o traje apropriado para todos. Ainda assim era fácil distinguir caloiros e veteranos pelo porte, cortesia e saber estar que só os anos e a experiência traziam consigo.
Desde aí, várias vezes se haviam cruzado pois ela parecia fazer questão de estar presente em muitas ocasiões, especialmente nos eventos de maior fama, e ele tinha-se apercebido que ela, apesar de não pertencer a nenhum grupo feminino ou misto, se mantinha bem informada quanto a modas e novidades. Lembrava-se, em especial, dum fim de tarde de Maio, em Coimbra, onde sentados nas docas do Mondego, cabeça com cabeça, com as pernas viradas para o rio, tinham partilhado um MP3 para ouvir um disco antigo dos Sabandeños e que ele ainda não conhecia. Sem ter percebido muito bem porquê, quando a passagem começou ainda o sol ia alto e quando terminou já a Lua espreitava do trás da torre da Universidade, o que os tinha obrigado a correr, entre risos, pela cidade até ao Gil Vicente, onde o espectáculo já deveria ter começado.

Amores de Estudante (I)

Bateu a porta de madeira velha e carcomida.
Desceu as escadas escusas e mal iluminadas deitando uma mão ao corrimão torneado como já não via há anos enquanto com a outra segurava a viola e equilibrava a capa no antebraço. Não sabia as horas, se era tarde ou cedo. Afinal, a porra do telemóvel tinha ficado sem bateria havia horas. Por fim, viu-se num átrio de mosaicos de xadrez que já tinha sido pretos e brancos no mesmo mau estado do resto do prédio. Abriu o trinco da porta de cujo topo se escapavam uns raios de luz filtrada que se projectavam no chão no chão lembrando os cinemas antigos.

Ao abrir a porta esperava-o uma claridade enevoada e a calçada portuguesa duma ladeira íngreme. Saiu para a rua e puxou o batente atrás de si. Apercebia-se agora que o Sol, já alto, procurava romper aquela bruma. Procurou instintivamente nos bolsos interiores da batina e, antes de mais, entre as palhetas, cartões da Tuna e credencial do Festival, lá conseguiu encontrar os óculos escuros com que se apressou a esconder os olhos e as olheiras que decerto tinha. Ainda se preocupou em endireitar a gravata e passar as mãos pelos cabelos encaracolados, preparando-se para as normais interpelações das pessoas enquanto não conseguisse reentrar no clã dos seus iguais.
Olhando para ambos os lados, pensou que sempre seria mais fácil descer que subir, até porque o corpo ainda não estava a responder aos excessos da noite anterior. Sabia apenas que os seus estariam lá para os lados do Campo Grande ou, pelo menos, seria lá que todos se voltariam a reunir.
Com a “banza” às costas lá começou a descer a ladeira olhando distraidamente a calçada feita em cubos calcários que de tão gastos e pisados estavam escorregadios. Também estavam molhados, pelo que deduziu que o fim da noite teria sido regado por uma bênção do céu naquele fim de Verão tão seco como nunca. O tinto devia ser bom neste ano, pensou. Até o seu tio lá do Douro o tinha convidado já, bem como a toda a Tuna, como era já costume, não só para a vindima e pisa mas também para a abertura do primeiro pipinho.

Estava nisto quando rompeu o sol e ele levantou instantaneamente os olhos, vendo então o Tejo ao fundo a brilhar num cenário daqueles quadros da Maluda que sempre lhe agradaram por tão geométricos e em que tudo parecia estar no seu lugar, mas com uma luz que jamais pintor algum seria capaz de reproduzir. Era certamente aquela “luz de Lisboa” que a Estudantina cantava. E a mesma luz contada nos velhos discos de fados e marchas que o pai tão ciosamente guardava lá em casa. Cruzou-se com um pequeno grupo de velhotas que estariam de regresso da visita ao velho mercado e que depois de lhe exigirem um fadinho, lhe indicaram o caminho do Terreiro do Paço e lhe encheram os bolsos de cerejas. Seguiu caminho trincando duas e não pode deixar de sorrir. De repente, toda a noite anterior lhe passou à frente como um filme. Ou melhor, como um sonho.
Nota de Abertura:

Ficção sobre tunos e Tunas.
Onde as personagens são mesmo ficção e as personalidades, sítios e entidades podem ser reais, mas servindo apenas de cenário.
Qualquer semelhança com a realidade será pois mera aparência.
Contos, parábolas e metáforas nas primeiras pessoas.
Divirtam-se, como eu espero divertir-me com isto.

O Autor