quinta-feira, 13 de setembro de 2007

FREI JACA RODRIGUES – O Último Goliardo (III)



(III)
Daí para a frente olhava as mulheres com uma gula cada vez maior, acabando os seus desejos – e receios, ao mesmo tempo – mais ou menos três anos mais tarde por se concretizarem três anos mais tarde por ocasião dum recado que fizera a mando de sua mãe a casa da viúva Sancha mulher risonha, atrevida e ainda nova – não teria ainda tinta anos –, cujo marido morrera havia cinco anos numa sortida além Tejo contra os infiéis por ordem de El-Rei.
Nesse dia, quando ela lhe pediu para a ajudar a mudar uma arca para o seu recesso e depois com ar maroto o empurrou para dentro do seu catre, caindo-lhe em cima com a longa saia já segura e levantada pela cintura, ele apenas se deixou ir, suando e resfolegando enquanto o corpo lhe permitiu, durante toda a tarde, e que lhe mereceu da mãe um reparo pela tardança a que apenas conseguiu balbuciar um “vi um pássaro raro, minha mãe, e andei atrás dele a ver se o agarrava. Da maneira que cantava quis trazê-lo para meter na gaiola de Vossa Senhoria”.
Nos anos seguintes, e à medida que melhor aprendia as artes do namoro, correu todas as moçoilas que conseguiu, tendo ganho fama nas redondezas pelas suas façanhas e atributos e um par de corridas desabridas quando algum pai ou irmão o tentava surpreender com alguma das fêmeas da casa.
Diga-se que, entretanto, ele se havia tornado um belo rapaz, esperto e especialmente dado aos jogos florais e de peleja em que melhores professores não poderia ter tido, como se verá a seguir.

O pai de Jaca, Rodrigo, apesar de homem rústico e agarrado á terra, ao ofício e à casa, sempre tivera também uma grande inclinação para a taverna, para o jogo, e para bailar e tocar. Tinha até em casa uma cítara que aprendera a arranhar com um mouro, Ibn Al Bakr, que era um renegado e tantas vezes servia de guia nas expedições guerreiras para Sul e ali pela terra assentava nos intervalos.

Nas investidas que fazia à estalagem, onde ficava a taverna, tomara conhecimento com uns viajantes sazonais que por ali costumavam passar no princípio e no fim do Verão. Gente nova, uns mais ricos que outros, mas que viajavam em conjunto, uns mais afoitos e para sul, contornando a Serra da Estrela pelo Meridião, rumo a Santarém ou Lisboa, outros mais cautelosos, optando antes pelo lado Norte, mais seguro, rumo a Veseo, Coimbra, Aveiro, Porto ou Guimarães. Nem todos portugueses pois às vezes via uns magotes de castelhanos, leoneses e galegos que com eles se misturavam e pareciam vir passar o estio nos mais frescos ventos do Reino de Portugal.

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