quarta-feira, 12 de setembro de 2007
FREI JACA RODRIGUES – O Último Goliardo (II)
(II)
O pai de Jaca era pois um homem do povo, mas um homem honrado. Tinha até sido Louvado em querelas e Prócere na outorga de dois forais, a mando um de D. Sancho II e outro já do próprio Rei D. Afonso III. Enfim, coroando os seus bons serviços prestados havia sido elevado à condição de cavaleiro menor – “Infanção”, como então se dizia.
A mãe, D. Brites, mulher trigueira e fértil tinha já parido cinco filhos antes do nascimento dele, dos quais apenas uma menina mais frágil não tinha sobrevivido ao primeiro ano de vida pela infelicidade de ter comido umas papas de milho em cuja farinha uns ratos se haviam conseguido espojar apesar de guardada na masseira. D. Brites governava a casa impondo forte figura matriarcal onde nem o pai se atrevia a interferir, acompanhada por algumas raparigas das vizinhanças que na casa faziam algumas jornas ou ali se recolhiam quando pais ou maridos partiam para a anúduva ou para a hoste.
Desde pequeno sempre se habituara à revoada de saias que a mãe comandava e ao cacarejar delas quando estavam juntas e na conversa, aos risos e arrulhos quando algum moço varão rondava o lagar, aos cantares agudos e sonoros nas mondas e desfolhadas, quase estranhando o silêncio quando elas se recolhiam.
Aos dez anos começou a olhá-las de maneira diferente, prestando cada vez mais atenção aos seus colos, imaginado o que iria por baixo daqueles camiseiros de linho branco que elas escondiam sob o colete. Daí a ir espreitá-las a banharem-se nuas no rio por trás da Fraga da Moura foi um passo. E só começou a perceber porque se chamava assim a Fonte dos Amores quando num certo fim de tarde de Primavera, descansando de uma ida aos ninhos, ouviu uns risos baixinhos vindos do chafariz. Espreitando entre as urzes e giestas espantou-se ao reconhecer a Teresa, filha casadoira de um vizinho e que passava o tempo lá me casa, de jarro debaixo do braço em conversa sussurrada com Soeiro Mendes, sobrinho do Senhor do Castelo do Sabugal. Mais espantado ficou quando a viu fugir rindo para o prado que ficava mesmo por baixo do seu esconderijo e ele a ter seguido e apanhado facilmente rolando pela erva agarrados até um canto encostado a um muro de pedras soltas onde as papoilas pareciam fazer uma colcha de brocado carmim.
O que presenciou a seguir não mais lhe saiu da memória. Mesmo estendido ao comprido no chão com a caruma a espetar-se no burel das calças e a picá-lo, não ousou mexer-se enquanto os outros por ali estiveram. Mais enfadado ficou ao sentir-se ruborizar pingando suor das suas guedelhas, mas sobretudo por sentir entumecer as suas partes baixas contra o chão, o que cada vez mais lhe acontecia, mas apenas era costume ao acordar, especialmente quando o tempo aquecia.
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