quinta-feira, 20 de setembro de 2007

FREI JACA RODRIGUES – O Último Goliardo (IV)



(IV)

Essa rapaziada dizia ir e vir da velha cidade de Salamanca, a três dias de caminho se a pileca fosse boa. Segundo contavam, lá existia, desde os idos de 1218, uma coisa fundada pelo velho Rei de Leão e Castela a que chamaram os Estudos Gerais, onde cursavam Leis e Cânones, que é como quem diz, estudavam as Ordenações e aprendiam para clérigos, na sua maior parte. Parece que uns anos antes esses estudos se faziam mais a Norte numa outra cidade chamada Palência. Mas alguma coisa não havia corrido bem e então o monarca havido situado esse centro de estudo na mais pacata cidade de Salamanca.

Aparentemente passavam lá três estações do ano frequentando as cátedras que estavam espalhadas por Colégios Maiores e Menores e fazendo de tudo um pouco para sobreviver, sobretudo no Inverno frio e gelado da velha Helmântica. Até porque o soldo que levavam de casa cedo se esgotava com o vinho, a comida e as mulheres.

Mas os que por ali paravam pareciam saber bem mais da vida mundana do que de leis e da vida do Nosso Senhor Jesus Cristo. Puxavam das adagas e das espadas quase sem motivo, pareciam concursar quanto ao que mais se conseguia empanturrar com os cabritos da estalagem ou quanto a qual deles dormia até mais tarde ou mais alto ressonava naquelas suas curtas paragens. Mas, melhor do que isso, e o que Jaca e seu pai mais apreciavam era a sua capacidade para tanger instrumentos, bailar e cantar até cair para o lado. E quando o faziam o sucesso era tal que parecia aparecer sempre alguém para pagar as contas da hospedagem.
Também os pais e irmãos das moças casadoiras aprenderam nessa época do ano a vigiar mais apertadamente as suas catraias porque eles pareciam saber tudo sobre como as levar na conversa. Além da língua popular falavam também o latim como os curas e também uma outra versão macarrónica daquele languajar que só eles compreendiam.

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