domingo, 30 de setembro de 2007

FREI JACA RODRIGUES – O Último Goliardo (V)


(V)
O jovem Jaca quando se conseguiu escapulir das tarefas lá de casa tudo fazia para acompanhar os estudantes, fosse noite ou dia. Mesmo quando estes lho recusavam, ele seguia-os pela calada das sombras.

Com os seus quinze anos feitos já conhecia uma série de cantigas, tendo percebido que a maioria delas falava de vinho. Algumas outras eram modificações arrevesadas das Santas Orações que quase sempre gozavam os Frades e a vida que levavam. Outras ainda, mais melosas, falavam ao coração das mulheres. Mas estas eram contadas na língua corrente dos dois lados da raia, segundo lhe explicaram, para que as Donas as compreendessem melhor, fossem elas do povo, da nobreza ou mesmo algumas monjas mais ligadas a questões mais terrenas.
Aprendeu também grande quantidade de galanteios e outras formosas falas que eles soltavam sempre que passavam por moçoila sozinha a caminho da fonte ou do forno ou de gamela à cabeça, vinda do lameiro.
Aprendeu truques de cartas e dados e as maneiras de enganar o estalajadeiro nos “pintos” de vinho a pagar.
Aprendeu a usar a adaga, a espada e a moca para se defender dos mais exaltados, enganados ou avinhados.
E aprendeu, claro, a tanger instrumentos musicais, da cítola à “vihuela” e ao pandeiro.

Na flor da sua juventude conheceu, biblicamente falando, todas as que pode e com uns engodos cada vez mais elaborados.
E, consequência de tudo isto, lá começou o desvario da sua vida...

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